Atualmente, São Paulo não figura entre os produtores de cacau. No entanto, por meio do trabalho da extensão rural da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, que investe em ações para gerar novas oportunidades de negócio, diversificação, renda e emprego nas propriedades paulistas, principalmente as de pequeno e médio portes, o Estado está abrindo uma janela de plantio no noroeste paulista.
“Apesar da produção atual, o Brasil não é autossuficiente no atendimento ao mercado interno, sendo, portanto, um importador de outros países. Diante disso, ampliar cada vez mais área e produção é importante. Na década de 1970, a Secretaria de Agricultura, por meio do Instituto Agronômico (IAC-APTA), investiu em pesquisas sobre o plantio e o manejo no âmbito do Plano de Expansão da Cacauicultura de São Paulo (Pecasp), as quais abriram possibilidades para viabilizar a cultura no Estado, que não tem tradição no segmento. Todavia as áreas implementadas não avançaram. Há seis anos, em um processo de identificação de novas alternativas de cultivo para ampliar a rentabilidade de produtores, visualizamos no cacau uma possibilidade interessante a ser trabalhada em sistema de consórcio com a heveicultura (cultura da seringueira) – uma das principais atividades do noroeste paulista (São Paulo é o maior produtor de borracha natural do Brasil) -, que tem grande importância, caracterizada pela geração direta e indireta de empregos e renda, que impulsiona a economia dos municípios da região, bem como afixação do trabalhador na zona rural”, explica o engenheiro agrônomo Andrey Vetorelli, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, que integra, ao lado dos engenheiros agrônomos Fioravante Stucchi Neto (Casa da Agricultura de José Bonifácio) e Fernando Miquelletti, o Grupo Técnico do Consórcio Seringueira, Banana e Cacau, o qual conta com o apoio nos trabalhos, do diretor da CDRS Regional São José do Rio Preto, Pedro Cavallini Neto.
Complementando as informações de Vetorelli, Fioravante fala um pouco da história do projeto. “A escolha pelo sistema de consórcio se deve ao fato de que ele permite o fortalecimento das atividades agrícolas de forma sustentável, por otimizar o uso de recursos como solo, água, mão de obra, máquinas e equipamentos; diminuir o risco econômico devido o cultivo simultâneo na mesma área de duas ou mais culturas; permitir um melhor fluxo de caixa, além de aumentar a rentabilidade da área”, informa, destacando que o início aconteceu no final de 2012, tendo o consórcio de cacau e seringueira – o qual inclui a banana para sombreamento das mudas de cacau e mais uma alternativa de renda – como principal linha de trabalho. “Em 2013, acompanhamos a implantação, em uma propriedade de Tabapuã (município de cerca de 13 mil habitantes, distante 45km de São José do Rio Preto), de um consórcio de cacau e seringueira e atestamos a viabilidade”.
A partir desse momento, os extensionistas buscaram aprimorar os conhecimentos para embasar a implementação do projeto na região. “Primeiramente, fizemos uma visita técnica à Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, considerado o principal centro de pesquisa e cultivo da cultura na América Latina, localizada em Linhares (ES). Com esse contato, iniciamos um trabalho conjunto com a entidade, com o objetivo de viabilizar o consórcio em área não tradicional de plantio. Também visitamos áreas de produção nos Estados da Bahia e do Espírito Santo, para conhecer as modernas tecnologias de plantio e manejo”, relembra Fioravante.
Atualmente, após diversas ações, a CDRS contabiliza diversas parcerias no desenvolvimento do projeto, que ajudaram a viabilizar a implantação de Unidades de Adaptação de Tecnologia (UATs), com mudas oriundas do Espírito Santo, nos municípios de José Bonifácio, Mirassol, Potirendaba, Monte Aprazível, Nova Granada, Ipiguá, Adolfo e São José do Rio Preto. “A implantação desse modelo de consórcio tem despertado muito interesse de produtores da região de Rio Preto e até de outras localidades. Vislumbrando o desenvolvimento de uma atividade de alto valor econômico, com potencial para promover rápida amortização do capital investido e rentabilidade com impacto na economia regional, diversas entidades se tornaram parceiras, como a Associação Comercial e Empresarial de São José do Rio Preto (Acirp)”, explica Andrey, informando que, hoje, o projeto conta com patrocínio da Fundação Cargill e efetivo acompanhamento de técnicos da Ceplac, assim como apoio da Faculdade de Tecnologia de São José do Rio Preto, da Escola Técnica de Monte Aprazível, do Sindicato Rural/Senar de São José do Rio Preto e da APTA Regional de Pindorama.
Nessas UATs, os extensionistas explicam que são aplicadas diferentes técnicas de manejo da cultura de cacau, irrigação, adubação, tratamento fitossanitário e de plantas daninhas, além de colheita e coleta de informações para análise financeira do sistema. “Também estamos avaliando diferentes densidades populacionais para cultivo, bem como a implantação de cacau com plantas nativas, visando atender economicamente áreas de Reserva Legal. Essas unidades são abertas para transferência de tecnologia e informação”, salientam Andrey, Fioravante e Fernando, enfatizando que, no momento, por conta da pandemia, as visitas presenciais estão suspensas, para cumprimento dos protocolos sanitários e de distanciamento social.
Desenvolvimento técnico do projeto Consórcio Cacau e Seringueira
Ao longo de quase seis anos de execução, os extensionistas informam que foram realizados diversos eventos, como palestras, workshops, Dias de Campo, visitas técnicas e outros, os quais permitiram transferir informações e conhecimento sobre o cultivo de cacau para cerca de 900 pessoas, entre produtores, estudantes, profissionais da área agronômica, bem como firmar uma ação conjunta com a Etec de Monte Aprazível, com o objetivo de capacitar os futuros técnicos agrícolas na área de atuação do cultivo de cacau.
“Esse trabalho tem repercutido positivamente na região, gerando uma demanda por parte de produtores interessados em implantar projetos comerciais e áreas-piloto em vários municípios da região, como José Bonifácio, Mirassol, Bady Bassit, Adolfo, Macaubal, Mirandópolis, Olímpia, Tabapuã, Novais, Palmares Paulista, Mirassolândia, Tanabi; e de outras regiões, como Alvares Florence (CDRS Regional Votuporanga), Mirandópolis (CDRS Regional Andradina), Tupã (CDRS Regional Tupã), Adamantina (CDRS Regional Dracena), o que mostra que ele está ganhando uma dimensão maior. E esse interesse dos produtores tem se concretizado em números: em 2014, a área plantada com cacau na região era de cerca 10 hectares; em 2021, contabilizamos quase 200 hectares cultivados com a cultura”, explica Fioravante.
Diante desse cenário, Andrey avalia que o cacau está se tornando uma alternativa de grande potencial. “Além das questões relacionadas à sustentabilidade social e ambiental, o consórcio tem se mostrado uma fonte atrativa de renda, pois incrementa, e muito, o valor obtido pelo cultivo isolado da seringueira”.
Outros motivos elencados pelos extensionistas para consolidar o noroeste paulista como região produtora de cacau se baseiam em seu perfil:
• possui produtores com vocação e solos de qualidade;
• possui clima adequado, com característica de Zona de Escape das doenças do cacau, pelo histórico de cultivo em pesquisas do IAC da década de 1970;
• capilaridade de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) promovida pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento;
• tem boa infraestrutura e logística (estradas) e indústrias de alimentação;
• possui um grande mercado consumidor (46 milhões de habitantes no Estado de São Paulo).
Impacto do projeto na viabilização da produção de cacau em São Paulo
Após seis anos de trabalho, o projeto contabiliza como principais frutos do trabalho conjunto com a Ceplac/MAPA, o reconhecimento da região noroeste paulista como área apta ao plantio da cultura, conforme descreve o Zoneamento para Plantio de Cacau no Estado de São Paulo (MAPA-2019), gerando, inclusive, a possibilidade de acesso a crédito oficial por parte dos produtores que iniciarem na atividade.
Outro ponto importante foi a publicação de uma Nota Técnica de Cultivo em São Paulo. “Nosso objetivo não é fomentar de forma desordenada a cultura do cacau na região, mas apresentá-la como alternativa de renda viável, diminuindo possíveis equívocos na implantação do sistema por parte dos produtores interessados. É importante frisar que todas as informações divulgadas são baseadas em protocolos de Boas Práticas e respeito à legislação vigente”, enfatizam os integrantes do Grupo Técnico.
Para não haja risco de implantação inadequada do sistema, a orientação é que os produtores interessados procurem a CDRS Regional São José do Rio Preto, que irá direcionar técnicos para fazer um diagnóstico e, a partir daí, realizar o planejamento adequado para as condições corretas. Contatos com o Grupo Técnico – Seringueira, Banana e Cacau – CDRS Regional São José do Rio Preto: andrey.borges@sp.gov.br/ fioravante.neto@sp.gov.br / fernando.miqueletti@sp.gov.br.
* informações da assessoria de imprensa
Por: AGROLINK -Eliza Maliszewski