O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio Grande do Sul (GAECO/MPRS) deflagrou uma operação para investigar a atuação do jogador Ênio, do Juventude, em um suposto esquema de manipulação de cartões em jogos do Brasileirão. A “Operação Totonero” realizou nesta terça-feira (20) dois mandados de busca em Caxias do Sul, cidade onde o atacante mora atualmente.
Segundo informações divulgadas pelo MPRS, os mandados foram direcionados para a casa do atleta e outro no Estádio Alfredo Jaconi, casa do Juventude, no armário de uso pessoal do jogador. Ênio já estava sendo investigado pelo suposto envolvimento no esquema de manipulação pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Governo Federal, que receberam relatórios de casas de aposta apontando uma movimentação suspeita de apostas relacionadas ao cartão.
Os crimes investigados contra Ênio são de os de organização criminosa, artigo 198 da Lei Geral de Esporte e, eventual estelionato associado, de acordo com informações publicadas pelo MPRS. O artigo citado pelas autoridades indica o crime de se beneficiar, seja patrimonialmente ou não, para alterar ou falsificar o resultado de competição esportiva ou evento a ela associado. A pena é de dois a seis anos de prisão, além de multa.
Os promotores de Justiça Rodolfo Grezzana, que atua em Caxias do Sul, e Manoel Figueiredo Antunes, coordenador do 5º Núcleo Regional do GAECO, informam que os mandados de busca tem como objetivo localizar documentos, mídias, celular e outros itens pessoais de Ênio que possam colaborar com as investigações. Além do atleta do Juventude, não está descartada a possibilidade de outros envolvidos diretos no caso, o que está sendo monitorado pelas autoridades.
Como iniciou a investigação do MPRS
Foram dois lances que aconteceram no Brasileirão 2025 que chamaram a atenção das casas de aposta e, posteriormente, das autoridades. O primeiro deles aconteceu justamente na estreia do Juventude na competição, diante do Vitória, no Alfredo Jaconi. No lance, Ênio leva um cartão amarelo aos 36 minutos do primeiro tempo por reclamação.
A outra ação suspeita investigada contra o atacante aconteceu um mês depois, na goleada sofrida pelo Juventude contra o Fortaleza por 5 a 0 no Castelão, na capital cearense. Aos 39 minutos do primeiro tempo, Ênio leva um cartão amarelo por fazer uma falta por trás em Lucas Sasha no meio-campo.
O GAECO comunicou que a CBF relatou ao MPRS que o alerta de suspeita de manipulação havia ocorrido após movimentações acima do considerado normal para um cartão envolvendo um jogador. O relatório ainda aponta que pessoas ligadas a Ênio estavam entre os apostadores nos dois cartões levados pelo atacante no Brasileirão.
Como foi identificada a suposta fraude
A primeira análise partiu das próprias casas de aposta. As apostas para que Ênio fosse punido com um cartão amarelo estavam bem acima da porcentagem padrão nas bets. Uma casa apontou que as apostas específicas sobre o atleta receber um cartão amarelo na partida representaram mais de 10% do total apostado no jogo.
Normalmente, apostas desse tipo não ultrapassam 1% do total, sendo qualquer valor acima de 3% considerado suspeito. Em uma das operadoras, o valor apostado chegou a 10 mil euros, aproximadamente R$ 64 mil.
A Associação Internacional de Integridade em Apostas Esportivas (Ibia) produziu um relatório, que confirma a suspeita em torno do cartão amarelo recebido por Ênio. Entre os apostadores, foram identificados três atletas, proibidos de realizar apostas em eventos esportivos, reforçando as suspeitas de irregularidades.