O mercado financeiro já começou a testar o nome do influenciador digital Pablo Marçal (PRTB), fenômeno da hora na disputa pela Prefeitura de São Paulo, como eventual candidato na disputa presidencial de 2026.
Ao menos dois bancos de investimentos da Faria Lima, região em torno da avenida homônima que concentra sedes de instituições financeiras em São Paulo, encomendaram pesquisas de intenção de voto que incluem Marçal no rol de presidenciáveis.
Os levantamentos ainda estão em fase de elaboração de relatórios prévios à ida de pesquisadores a campo, segundo duas pessoas com conhecimento das tratativas disseram à reportagem.
Nada disso significa que Marçal seja um eventual candidato preferido do mercado a esta altura. Entre as obrigações de quem trabalha com investimentos está saber como cenários políticos afetam o ambiente econômico do país e, por isso, há o desejo aferir o tamanho nacional do nome do PRTB.
É muito cedo? Nunca é, segundo especialistas em pesquisas eleitorais. Marçal mesmo já tentou ser candidato a presidente em 2022, sem sucesso, e disse almejar o cargo. Na segunda (2), no programa Roda Viva, disse contudo que Lula só perde em 2026 se estiver morto e, neste caso, ele se vê favorito.
Ele saiu da obscuridade na disputa paulistana em maio, quando lançou-se de fato candidato, e empatou em primeiro lugar com Guilherme Boulos (PSOL) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) há duas semanas, segundo levantamento do Datafolha.
Nova pesquisa do instituto confirmou o empate nesta quinta (5), após uma ainda maior radicalização de sua estratégia política e sua ausência no horário eleitoral gratuito, devido ao fato de o seu partido não ter representação congressual.
De qualquer modo, a grosseria e o discurso motivacional de Marçal, evidenciado no desrespeito a regras da Justiça Eleitoral e de organizadores de debates, o colocou em uma posição de destaque nesta largada da corrida municipal.
Politicamente, ele bebe na fonte e pesca no lago eleitoral do bolsonarismo, emulando itens da bem-sucedida campanha do então irrelevante deputado federal pelo Rio Jair Bolsonaro à Presidência em 2018: quase sem tempo de TV e rádio, com um discurso antissistema e apelando à agressividade.
Marçal dobra a aposta, e isso causou um transtorno para os políticos bolsonaristas, dado o apoio formal do ex-presidente ao Nunes nesta campanha. Isso gerou um curto-circuito, com Bolsonaro e seu filhos abrindo guerra ao influenciador.
Sem Bolsonaro, inelegível até 2030, por ora o pleito de 2026 se organiza em torno do presidente Lula (PT) ou algum indicado de seu campo e nomes da direita, como os dos governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), cada qual com seu grau de bolsonarismo.
Em 2018, Bolsonaro foi o dito candidato do mercado a partir do momento em que a postulação de Geraldo Alckmin, então no PSDB e ironicamente hoje vice-presidente do governo Lula (PT) pelo PSB, fez água apesar da enorme frente de partidos de centro e centro-direita a seu redor.
Um dos marcos do processo foi uma convenção do banco BTG, em fevereiro daquele ano, em que Bolsonaro saiu aplaudido de pé ao misturar a usual demagogia populista radical a promessas de liberalismo extremo se eleito.
O relato do evento pela Folha constrangeu alguns dos presentes: durante meses, buscavam negar o ocorrido. Mas a realidade se interpôs, especialmente após a confirmação do economista liberal Paulo Guedes como nome de Bolsonaro para gerir a economia.
A agenda mais radical de Guedes nunca foi implementada, mas obteve vitórias pontuais como a reforma da Previdência no primeiro ano do governo e a implantação da autonomia do Banco Central. Ao fim, a escalada autoritária e os desmandos de Bolsonaro na pandemia acabaram por torná-lo um ativo tóxico.
O pensamento econômico de Marçal, se existe, é insondável. Ele se move por frases de efeito que geram os tais “recortes” para vídeos em redes sociais, e suas referências à economia por ora se equivalem aos preceitos de autoajuda de seus cursos online e falas a canais de educação financeira.
Em vídeos, o influenciador diz ser dono de um banco. Segundo o site Metrópoles, na realidade o General Bank é um intermediário que cobra ilegalmente R$ 45 de clientes para abertura de contas em outras instituições. Marçal disse depois no programa Roda Viva que a entidade estava em “teste”.
Igor Gielow