Típico dos rios que cortam a Amazônia, o pirarucu (Arapaima gigas) já alcançou outras moradas pelo território nacional. Há exemplares no Nordeste, Centro-Oeste e em parte do Sudeste. O pescado ainda tem a seu favor a característica de se dar bem em águas com diferentes níveis de pH e concentração de sais minerais. Contudo, mesmo dotado de bexiga natatória altamente vascularizada, que é utilizada como pulmão, o pirarucu necessita de água com bom teor de oxigênio para não ter seu crescimento prejudicado.
Projetos de criação do peixe realizados pela Seagro (Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento) do Tocantins em parceria com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) registraram bons resultados, indicando ser essa uma atividade promissora. Também conhecido como piraruco, pirosca e, quando jovem, bodeco, o pirarucu pode crescer dez quilos em um ano e ter rendimento de até 57%, desempenho que pode ser convertido em lucros para o criador.
O preço do quilo do filé de pirarucu no varejo paulista varia de R$ 15 a R$ 20. Na Amazônia, onde a produção local do pescado é mais elevada, o valor vai de R$ 5,50 a R$ 17. Além de carne sem espinhas, com boa textura e sabor agradável, o pirarucu oferece pele e escamas como produtos que podem ser usados na fabricação de roupas e acessórios.
Um dos maiores peixes de água doce, o pirarucu pode ultrapassar 2 metros de comprimento e pesar mais de 200 quilos. Gosta de viver em água calma e em rios de correnteza fraca. Pelas vantagens comerciais, o pirarucu tornou-se presa cobiçada pela pesca predatória, sendo a criação em cativeiro uma alternativa para manter os estoques da espécie.
Porém, antes de iniciar a criação de pirarucu em regiões fora da Amazônia, o produtor precisa consultar o órgão ambiental de seu Estado sobre a permissão para a atividade, de acordo com o secretário de planejamento e ordenamento da aquicultura do MPA (Ministério da Pesca e Aquicultura), Felipe Matias. Presente na lista de animais ameaçados de extinção do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), o pirarucu tem seu manejo sob orientação da entidade.
Desde dezembro de 2011, com instrução normativa assinada pelo MPA e Ibama, o cadastramento de reprodutores de pirarucu tornou-se obrigatório, inicialmente, no Estado de Rondônia. A exigência, que será estendida para outros estados, tem o objetivo de registrar a identidade genética do peixe em microchip eletrônico, para que os alevinos gerados possam ser rastreados, assegurando-se que são provenientes da aquicultura.
MÃOS À OBRA
>>> INÍCIO Compre juvenis de pirarucu com outros produtores que tenham recomendação e experiência na atividade. É importante que os peixes sejam oriundos de uma boa linhagem para assegurar a qualidade da produção e dos descendentes. Comece com 300 juvenis de 10 a 20 centímetros treinados para consumir ração.
>>> AMBIENTE A água deve ser clara, com pouca quantidade de sedimentos e ligeiramente alcalina. A espécie gosta de viver em água calma e com temperatura que se mantém na faixa de 24 a 37 ºC. Evite que hajam oscilações bruscas e dê preferência para o ambiente mais quente.
>>> ESTRUTURA O sistema de produção mais utilizado para criação de pirarucu é o de tanque escavado com fundo de terra. O abastecimento de água pode ser feito por meio de um canal e um tubo de PVC e a vazão regulada por meio de um monge instalado dentro do tanque. Contudo, muitos trabalhos têm sido desenvolvidos para o cultivo em tanque-rede.
>>> ENGORDA Quando os peixes atingirem 1 quilo, devem ser transferidos para o tanque de engorda, no qual a densidade deve ser de um indivíduo por 10 metros quadrados. O período de engorda leva um ano, com produção de 15 toneladas por hectare.
>>> ALIMENTAÇÃO Há duas opções de dieta para o pirarucu de cativeiro. Se a escolha for pela alimentação natural, com o consumo de lambaris, tilápias e espécies forrageiras, os juvenis devem ser separados dos pais quando atingirem 40 gramas. Na adoção de arraçoamento, considerada a melhor alternativa, a partir de 1,5 a 2 gramas os juvenis já podem ser transferidos para um local específico para começar o condicionamento alimentar. São treinados para comer ração durante seis dias, com seis refeições diárias. Mas o processo pode demorar mais.
>>> REPRODUÇÃO Em cativeiro, o pirarucu demora de quatro a cinco anos para chegar à idade adulta e reprodutiva, com peso entre 40 e 45 quilos. No período de reprodução, é possível distinguir o macho, que tem coloração avermelhada, da fêmea, cuja pele fica com um tom mais acastanhado. Após chuvas intensas, ocorrem em águas paradas as desovas, em ninhos preparados e defendidos pelos machos, que ainda protegem os filhotes nos primeiros meses de vida. A cada ninhada, a produção pode oscilar de 3 mil a 10 mil alevinos.
RAIO X
>>> CRIAÇÃO MÍNIMA: 300 peixes
>>> CUSTO: em geral, o preço dos juvenis é de R$ 1 por centímetro de peixe
>>> RETORNO: um ano para criações com tanques escavados
>>> REPRODUÇÃO: a produção de cada ninhada varia de 3 mil a 10 mil alevinos
*Fernando Stopato da Fonseca e Eduardo Makoto Onaka são pesquisadores do Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Pescado Continental, Instituto de Pesca, São José do Rio Preto, SP, Caixa Postal 1052, CEP 15025-970, tels. (17) 3232-1777 e (11) 3871-7549, fstopato@pesca.sp.gov.br e onakaem@pesca.sp.gov.br
Onde adquirir: Projeto Pacu, tel. (67) 3041-0400, ou acesse http://www.projetopacu.com.br ; secretarias de agricultura dos Estados, principalmente da Região Norte, podem fornecer indicações.
Mais informações: Alexandre Godinho Cruz, diretor de aquicultura da Seagro (Secretaria da Agricultura, Pecuária e do Desenvolvimento Agrário) do Estado do Tocantins, tel. (63) 3218-2139, cruzgalex@hotmail.com ; para orientações sobre autorização de criação de animais exóticos e silvestres, entrar em contato com a Divisão de Fauna da Superintendência mais próxima, cujos números podem ser encontrados em http://www.ibama.gov.br/institucional/ibama-nos-estados
Por João Mathias | Consultores Fernando Stopato da Fonseca e Eduardo Makoto Onaka*