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BR-364, a estrada da morte e o descaso com a vida em Rondônia

Em menos de 20 dias, Rondônia presencia duas tragédias com o mesmo roteiro e o mesmo desfecho: acidentes graves na BR-364, entre Candeias do Jamari e Itapuã do Oeste, envolvendo ambulâncias. Ao todo, seis pessoas ate o momento perderam a vida, entre elas os motoristas das unidades de saúde, enfermeiros, médicos e pacientes. O que poderia ser tratado como fatalidade é, na verdade, consequência direta do abandono e do descaso com a infraestrutura e a saúde pública no estado.

A BR-364, conhecida há anos como a “BR da Morte”, é o principal eixo rodoviário de Rondônia. Mas está longe de oferecer condições seguras de tráfego. A rodovia não é duplicada, tem sinalização precária e trechos em más condições. Esse abandono transforma cada viagem em uma roleta-russa. Para os que precisam se deslocar por ali, inclusive ambulâncias transportando pacientes em estado grave, cada trajeto pode ser o último.

Mas a tragédia vai além do asfalto. Ela começa na crise estrutural da saúde pública. Vários municípios do interior não possuem hospitais com capacidade para atender a população. Diante disso, pacientes precisam ser transferidos para Porto Velho, sobrecarregando os hospitais da capital, que operam no limite da capacidade. É nesse cenário caótico que os motoristas de ambulância, muitas vezes exaustos após longas jornadas e sem estrutura adequada, enfrentam centenas de quilômetros pelas estradas em más condições.

A sobrecarga desses profissionais é um alerta que precisa ser levado a sério. Dirigir por horas a fio, sob pressão e responsabilidade, compromete o estado físico e mental dos condutores. Ignorar isso é desumanizar trabalhadores essenciais e colocar ainda mais vidas em risco.

Segundo dados do Observatório do Desenvolvimento Regional, em 2024 foram registrados 1.584 acidentes na BR-364, resultando em 175 vítimas fatais. Esse número alarmante exige um posicionamento urgente de nossas lideranças políticas.

Rondônia não pode mais esperar. É inaceitável que pacientes do interior precisem percorrer mais de 600 km para buscar atendimento básico. É inadmissível que nossos profissionais da saúde enfrentem jornadas exaustivas em rodovias perigosas. É urgente cobrar investimentos reais: em infraestrutura, em saúde e em dignidade.

Não estamos diante de uma fatalidade, mas de uma consequência previsível da negligência. E onde há previsibilidade, há responsabilidade. Que os responsáveis sejam cobrados. Que as promessas saiam do papel. E que nenhuma outra vida precise ser sacrificada para que o poder público finalmente enxergue a dor que assola Rondônia.

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