Dobradinhas entre partidos do centro e da direita são as mais comuns nas coligações formadas para as disputas às prefeituras do país nessas eleições. O mesmo padrão se repete nas trocas de legendas feitas por candidatos que disputaram o pleito de 2020 e se candidataram em 2024, mostra GPS Partidário da Folha.
O perfil das coligações e migrações entre os partidos são dois dos fatores usados na métrica criada pela reportagem para definir a proximidade entre 28 partidos registrados no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Os componentes foram mensurados junto com o perfil de votação na Câmara dos Deputados e a participação em frentes temáticas da Casa para ranquear o nível ideológico dos partidos, em que 1 é o máximo à esquerda e 100 o máximo à direita.
Entre partidos, as quatro trocas mais frequentes envolvem o União Brasil, sigla criada em 2022 a partir da fusão entre DEM e PSL, situação que libera correligionários com mandato no Legislativo a trocar de legenda.
A migração mais frequente envolvendo o União Brasil foi com o PSD, do centro, com 2.380 registros, seguida pelo PP, centro, com 2.276, PL, direita, com 2.262 e MDB, centro, com 2.239.
Na outra ponta, entre as trocas menos frequentes, estão as migrações entre o Novo e o PT, com oito casos, PRTB e PSOL, com quatro, e Novo e PSOL, com três.
No caso das coligações, válidas apenas para as disputas às prefeituras, pesa o interesse de cada sigla em compor uma aliança no município.
Ao todo, foram 15.349 coligações neste pleito, a maior delas em Betim (MG), com 18 partidos apoiando o o candidato Heron Guimarães, do União Brasil. Foram considerados os partidos que estão coligados por fazerem parte de uma federação, caso do PT com PC do B e PV, PSDB com Cidadania e PSOL com Rede.
É mais comum que partidos de centro integrem coligações onde estão também siglas de direita. Um exemplo é a aliança de 11 legendas pela reeleição de Ricardo Nunes (MDB) à Prefeitura de São Paulo, que tem partidos dos dois espectros.
Na sequência aparecem alianças de siglas da esquerda com o centro, como aparece na coligação no Rio pela reeleição de Eduardo Paes (PSD), que tem também siglas de direita, e entre a própria esquerda, caso da campanha da deputada federal Maria do Rosário (PT) à Prefeitura de Porto Alegre (RS).
Os partidos de esquerda que mais se coligam com legendas do centro são o PDT e PSB. No centro, o PMB, Agir e Mobiliza formam mais alianças com partidos da direita. O União Brasil e o Republicanos, ambos à direita, estão mais coligados com partidos do centro.
O exemplo mais recorrente de legendas que integram as mesmas coligações é do MDB e PSD, juntos em 1.259 municípios. Bem menos comum são junções com partidos de campos totalmente opostos, caso do Novo e a federação do PT, coligados na disputa pela Prefeitura de Mariana, em Minas Gerais.
Fontes para a análise
- Migração partidária: padrões de mudança de partido entre os políticos a partir de dados de candidatura registrados pelo TSE até 2 de setembro;
- Frentes parlamentares: participação dos partidos em diferentes frentes temáticas na Câmara dos Deputados neste ano a partir de dados coletados no site da Casa em 29 de agosto;
- Coligações eleitorais: alianças formadas entre partidos nas eleições de 2024 municipais com dados de candidatura registrados pelo TSE até 2 de setembro;
- Votações na Câmara: padrão das votações dos deputados de acordo com o partido desde 2023 até 15 de agosto.
- Técnicas estatísticas
Para analisar os dados sobre migrações partidárias, frente parlamentares e coligações eleitorais foi aplicada a técnica de Análise de Correspondência para extrair as principais tendências dos partidos. O posicionamento nas votações da Câmara foi obtido por meio do método estatístico da Teoria de Resposta ao Item em conjunto com o método de Monte Carlo, técnica matemática para lidar com dados faltantes, como no caso de deputados ausentes em votações
Classificação
Para cada medida, os partidos foram classificados com base em sua posição relativa. Esses rankings são então normalizados para uma escala de 1 a 100, onde 1 representa a posição mais à esquerda e 100 a posição mais à direita no espectro político. O posicionamento final de cada partido é determinado pela média aritmética simples dos quatro rankings normalizados. Os partidos são então ordenados com base nessa média e categorizados em grupos no espectro político.