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Prevenir pode salvar vidas

Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, em parceria com o Conselho Federal de Medicina – CFM, organiza nacionalmente o Setembro Amarelo. São registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de 01 milhão no mundo.  Cerca de 96,8% dos casos de suicídio estavam relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias.

Conforme dados recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS), o número de pessoas acometidas pela depressão chega próximo a 330 milhões, sendo o Brasil o país com maior taxa de depressão na América Latina, impactando cerca de 12 milhões de pessoas.

O suicídio se dá por múltiplos fatores e em sua maioria, são decorrentes de transtornos mentais que por vezes, acabam não sendo diagnosticados e tratados em tempo, principalmente pelo tabu e pela banalização do adoecimento psíquico. Geralmente é acompanhado de ideações suicidas, trazendo sinais que por vezes, são percebíveis. Frases como “eu sou um peso para as pessoas”; “eu quero deixar de existir”; “os outros vão ser mais felizes sem mim”; “eu não aguento mais; “só quero dormir e nunca mais acordar”; evidenciando a falta de perspectivas futuras, tristeza profunda, culpa, isolamento e desesperança. Por isso, é de extrema importância considerarmos que nem sempre quem tem pensamentos suicidas anuncia o planejamento do suicídio, mas emite sinais de alerta que precisam ser levados a sério, visto que, quem comete suicídio não deseja acabar com a própria vida, mas colocar fim em seu sofrimento.
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A psicóloga, Caroline Nunes explica que, inicialmente, é importante entendermos o que caracteriza a depressão. A depressão costuma envolver humor deprimido, sentimento de desesperança, perda de interesse nas atividades, alterações no apetite, insônia, perda de energia, sensação de incapacidade, baixa autoestima e sentimentos recorrentes de culpa e pensamentos catastróficos. Para se configurar como depressão, tais emoções precisam ser contínuas, em um nível intenso. Com o surgimento da pandemia, os casos de depressão aumentaram cerca de 80% na população e o isolamento foi um dos grandes fatores de ter contribuído para que os índices de depressão aumentassem. ‘A pandemia está nos afetando de inúmeras formas, expondo todas as nossas fragilidades (psíquicas, físicas e econômicas). Quem já apresentava alguma fragilidade psicológica, com a pandemia isso se potencializou. Além disso, este momento tem despertado sentimentos tais como medo, ansiedade, tristeza, raiva, incerteza e insegurança, impactando de forma negativa na saúde mental e na propensão a depressão. Por isso, é fundamental de ser destacado que só é possível realizar um diagnóstico de depressão, se houver uma avaliação psiquiátrica e psicológica, podendo sugerir possibilidades de tratamento”, salienta Caroline.

Neste ano, principalmente por estarmos vivendo uma pandemia, a situação pode ainda ser mais grave. A psicóloga salienta a importância de lembrarmos que estamos vivendo um momento atípico, no qual, sentimentos mais desagradáveis e hostis estão nos rodeando. Com tantas imprevisibilidades, vemos a nossa saúde mental sendo afetada de diversas maneiras. O aumento da ansiedade, insegurança, angústia e medo, são sentimentos presentes e normais frente a esse momento, já que não estar se sentindo assim e dizer que está tudo “bem” seria uma perda de juízo da realidade.

É comum que as mudanças advindas do externo trouxeram uma bagunça interna. Por isso, esse momento exige que você se reorganize e crie novas estratégias para construção de uma nova rotina, visto que, estamos diante de uma nova realidade. No entanto, essa tem sido uma oportunidade para revermos as nossas emoções, que foram despertadas com o surgimento da pandemia e construirmos práticas de autocuidado que serão importantes para evitar prejuízos maiores a nossa saúde mental. São inúmeras as formas de manter a saúde mental em dia. A primeira delas é buscar por autoconhecimento por meio de um apoio especializado proporcionado pela psicoterapia porque a partir disso, você poderá reconhecer em si quais são seus desejos e o que para VOCÊ é capaz de provocar saúde e bem-estar, já que isso dependerá da singularidade, particularidade e subjetividade de cada pessoa.

É de extrema importância aliar a saúde física e mental, entendendo que corpo e mente são aspectos indissociáveis. Se o emocional de alguém não anda bem, poderá desenvolver no corpo diversos adoecimentos, que são de uma ordem emocional. Por isso, buscar identificar a origem e a causa destes sintomas é fundamental, pois somente quando tivermos a consciência do aparecimento destes adoecimentos, poderemos encontrar soluções e maneiras de como manejar essa situação. Além disso, outras dicas preciosas que eu sugiro são: priorize cuidar de você, busque reconhecer as suas emoções e sentimentos, fortaleça os vínculos sociais e afetivos, desfrute do tempo ócio, exercite a mente e o corpo com aquilo que lhe proporcione prazer

O alerta vale para os agricultores também, estudos recentes apontam que o contato com agrotóxicos na produção agrícola, pode aumentar consideravelmente as chances de desenvolver um quadro depressivo, e com a doença, o agricultor cometer um suicídio. Segundo uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o uso de agrotóxicos, como os organofosforados, aumenta as chances de depressão dos agricultores. É importante de destacar que o Rio Grande do Sul apresenta o maior número de casos de suicídio no país, o que requer ainda mais a nossa atenção para o assunto. Pensando no âmbito dos agricultores, um dos fatores que também contribui para o sofrimento e adoecimento psíquico é o distanciamento dos meios urbanos o que faz com que o agricultor viva o próprio sofrimento de forma isolada e solitária.

Caroline ainda comenta que, também pode aparecer como gatilho a frustração em perder uma safra, o endividamento, e principalmente, o desconhecimento de informações sobre os apoios especializados de saúde mental, tais como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST), bem como acompanhamento psiquiátrico e psicológico, que o agricultor pode buscar. Além disso, é importante a responsabilização institucional do sindicato da categoria em combater a prática do suicídio e prestar apoio, promovendo ações que discutem o assunto. O silenciamento ensurdecedor sobre o suicídio, tratado como proibido e motivo de vergonha entre os agricultores, faz com que os índices de suicídio aumentem, principalmente pelo tabu sobre o assunto.

A psicóloga, Caroline Nunes reuniu informações importantes de como alertar e dar visibilidade para campanhas como o Setembro Amarelo, veja:

A campanha trata da prevenção ao suicídio, no qual requer ainda mais a nossa atenção neste ano, entendendo que, com o surgimento da pandemia, pessoas que já apresentavam alguma fragilidade psíquica, se encontraram ainda mais vulneráveis e propensas ao adoecimento psicológico. Com estatísticas cada vez maiores, os casos de suicídio cada vez mais aumentam, se configurando como um problema de saúde pública. Apesar de diversas estratégias preventivas ao suicídio, uma pessoa ainda morre por suicídio a cada 40 segundos, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).

O suicídio se dá por múltiplos fatores e em sua maioria, são decorrentes de transtornos mentais que por vezes, acabam não sendo diagnosticados e tratados em tempo, principalmente pelo tabu e pela banalização do adoecimento psíquico pela sociedade. Em decorrência destes fatores, é uma maneira de comunicar um sofrimento em seu estágio mais avançado que levam o sujeito a desistir de viver. Assim, discutir sobre o suicídio é uma demanda urgente, visto que, é uma das principais causas de mortalidade no mundo, prevalecendo entre os jovens do sexo masculino, sendo o estado do Rio Grande do Sul com a maior taxa de suicídio no Brasil. Muitas pessoas possuem a ideia errônea e equivocada de que falar sobre o assunto pode incentivar a pessoa depressiva a cometer o suicídio e esse é um grande mito. Falar com a pessoa que está deprimida, incentivando-a a buscar por apoio especializado, poderá prevenir o suicídio, já que discutir sobre esse assunto, ajuda a diminuir os estigmas sociais que envolvem essa temática. É tão importante que a sociedade como um todo (família, amigos, escola, organizações de trabalho) esteja atenta aos menores sinais, se demonstrando disposta a discutir sobre o tema e poder dar direcionamentos a pessoa que está passando por um sofrimento, encaminhando-a para um tratamento especializado que poderá trazer um novo olhar sobre a vida.

Algumas estratégias de como você pode ajudar alguém que está passando por um sofrimento psíquico e apresentando ideações suicidas:

-Escute atentamente, sem julgamentos
-Acolha os sentimentos da pessoa, expressando respeito e empatia
-Demonstre preocupação, cuidado constante e afeto
-Comunique a família e amigos imediatamente

Além disso, conte com uma rede de apoio, tais como:
-Família
-Amigos
-Apoios especializados por meio de unidades de saúde, se destacando os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)
-Centros de apoio emocional: CVV (Centro de Valorização da Vida), ligue para o 188.

-Conte com o apoio de profissionais da saúde mental: psicólogos e psiquiatras.

Jamais ignore o sofrimento de alguém. Não diminua a dor de alguém. Não faça com que o problema pareça “bobagem”. Ao invés disso incentive esse alguém a procurar por ajuda. Não deixe a pessoa que está enfrentando seu sofrimento psíquico sozinha. O suicídio pode ser prevenido, por isso, ressalta-se a importância do acompanhamento psicológico por meio da psicoterapia como maneira de prevenção e promoção da saúde mental. 

Se você ou alguém que você conheça, possui pensamentos suicidas, peça ajuda. Buscar ajuda é um sinal de força e coragem!

Por: AGROLINK –Aline Merladete

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