Considerada uma das prioridades para o desenvolvimento econômico do estado, a atividade piscícola recebeu, nos últimos anos, um reforço do governo estadual.
Tratada como agronegócio e recebendo apoio de diversos segmentos institucionais a produção, de aproximadamente 12 mil toneladas/ano de pescado em 2010, saltou para mais de 80 mil toneladas/ano, das quais 5.200 são produzidas em Porto Velho.
Para Domingos Mendes da Silva, morador do projeto de Reassentamento Santa Rita, localizado a 54 quilômetros da capital, esse foi o incentivo que ele precisava para dar início a uma ação inovadora e produtiva: integrar a piscicultura com a fertirrigação. Em meio de sua lavoura frutífera ele montou a base para a criação do pirarucu da Amazônia, um dos maiores peixes de água doce do mundo.
Sem experiência para trabalhar com a atividade, Domingos foi orientado e capacitado pelos extensionistas da Emater-RO. Devido a sua área ser reduzida em recursos hídricos o mesmo foi orientado a trabalhar com tanques lona. Com essa técnica, devido à maior aeração da água, o peixe tem condições de se desenvolver melhor em menos tempo, quando comparado à produção em tanques escavados ou em tanques-rede, chegando a 50 quilos de peixe/m3, enquanto que o normal seria de um Kg/m3.
A idéia do projeto era implantar um sistema de produção sustentável e participativo para a agricultura familiar, tendo por base a integração da criação de pirarucu no sistema proposto com a produção de açaí, outra fonte de renda da família que conta com 500 pés, além de outras frutíferas em menor escala.
Para complementar o sistema de produção e criação de peixes, o agricultor entrou com parte de recursos financeiros próprios e acessou o crédito rural, através da linha de crédito Mais Alimento do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). As mudas de açaí foram produzidas na propriedade, utilizando sementes da variedade BRS Pará, disponibilizadas pela Emater-RO.
O Projeto Piraçaí
O agente de Ater que deu suporte ao Projeto Piraçaí, Janderson Dalazen, conta que o sistema de criação de pirarucus implantado foi o super intensivo. Utilizou-se tanques de lona com 8,4 metros de diâmetro e 1,20 de altura, confeccionado em PVC flexível com malha de poliéster entre as camadas de 2 mm e capacidade de 50 m³. “O abastecimento com água era diário, oriunda de um córrego perene próximo a propriedade”, diz Janderson, explicando que os tanques foram dispostos em barracões de madeira de aproximadamente 10 x 20 m² cobertos com telha de fibro cimento.
A água dos tanques era renovada diariamente por meio mecânico com auxilio de uma bomba com capacidade de 80 metros cúbicos por hora e descartada por gravidade para os tanques escavados. A água residuária foi mantida por seis meses nos tanques, durante o período chuvoso e posteriormente, disponibilizado para a irrigação da cultura do açaí. Para a irrigação foi utilizada bomba com capacidade de 10 metros cúbicos por hora, canos de PVC e micro aspersores dispostos entre as linhas do pomar.
Resultados positivos
O resultado obtido nesse sistema foi a obtenção de 2,4 toneladas de biomassa de peixes por tanque, num período de 12 meses, para as quais foram consumidas 3,8 toneladas de ração. De acordo com estudos até então realizados, o pirarucu pode chegar a peso de 10 kg em um ano, em sistema de criação intensivo convencional. Neste trabalho os peixes atingiram 12 kg em um ano e um dos fatores que contribuem para essa eficácia é a renovação diária da água do tanque.
Com isso pode-se perceber que a unidade demonstrativa de produção integrada vem demonstrando resultados admiráveis do ponto de vista técnico, econômico e social. “Realizando as atividades diárias de acompanhamento e monitoramento, temos a indicação de que o sistema além de viável é sustentável, pois proporciona um incremento também para as culturas perenes”, enfatiza o extensionista Janderson.
O manejo desenvolvido para unidade vem sendo aplicado e desenvolvido pelo proprietário e sua família de forma sustentável. Hoje, o produtor trabalha com quatro tanques de lona de 50 mil litros e dois menores. Sua primeira despesca deu-se em julho deste ano, com a venda de oito mil quilos de pirarucu para a empresa “Rondônia Alimentos” que, com apoio do governo estadual por meio da Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri), está em processo de instalação de um complexo industrial cujo investimento deverá beirar R$ 45 milhões.
Viabilidade e rentabilidade
A produção de pirarucus em tanques lona mostrou-se uma estratégia viável e demandada para pequenas áreas, todavia a atividade exige a renovação ou recirculação periódica da água. Os resultados da unidade de produção integrada de Domingos Mendes foram apresentados em um Dia de Campo, único, na categoria em Porto Velho e foi destaque em vários meios de comunicação, ajudando a destacar o projeto e a difundir as tecnologias desenvolvidas ao longo da implantação do mesmo.
O projeto piloto iniciado em 2012, hoje possui status de unidade de produção gerando renda a família envolvida, oferecendo dados técnicos e servindo como vitrine tecnológica para técnicos e produtores rurais. Além da produção de 12 toneladas/ano nos 440 m² de área produtiva, a piscicultura, na área integrada, contribui na produção, com ajuda da fertirrigação, de açaí, citros, abacaxi melancia, pimenta de cheiro e galinha caipira.
Como limitação, pode-se considerar que há a necessidade de alto investimento inicial para aquisição dos tanques de lona, todavia o sistema é rentável e viável e tem satisfeito as necessidades da família, como relata o próprio Domingos Mendes da Silva: “Eu e minha família estamos no caminho que escolhemos, sabemos que estamos dando os primeiros passos, mas estamos felizes… é muito gratificante ter os peixes no tanque e os açaizeiros dando cachos no pomar”.
Wania Ressutti
Jornalista – SRTE/DRT/RO-959
EMATER-RO
Fotos: Bruno Corsino/Secom