Realizada a cada quinze dias, no pátio do escritório central da Emater-RO, em Porto Velho, a Feira Sabor do Campo foi uma ação determinante para despertar o entusiasmo necessário que as famílias de agricultores daquela região precisavam.
Idealizada com o objetivo de abrir novos canais de comercialização para agricultores reassentados do município de Porto Velho, a nova atividade tem transformado a vida das famílias através da geração de renda e melhoria da qualidade de vida. Hoje os 40 agricultores permanentes que realizam a feira, movimentam aproximadamente R$ 56.000,00 por mês.
A Feira Sabor do Campo surgiu com o intuito de impulsionar e mostrar novos caminhos da comercialização de produtos agrícolas, produzidos não por apenas agricultores familiares, mas agricultores que foram remanejados compulsoriamente e reassentados por decorrência da construção da Usina Hidrelétrica Santo Antônio Energia em Porto Velho-RO. As inúmeras famílias que tradicionalmente viviam em diversas comunidades às margens do Rio Madeira viram-se obrigadas a deixar suas casas e iniciar a vida em outras áreas.
Tendo que recomeçar do zero essas famílias precisavam de uma assessoria que as ajudassem a planejar e desenvolver a nova propriedade. Assim, o consórcio Santo Antônio Energia (SAE) firmou contrato com a Emater-RO para que, durante três anos, prestasse serviços de assistência técnica e extensão rural (Ater) para as 400 pessoas dos três reassentamentos rurais construídos para abrigá-las.
Passados os três anos de ocupação, a paisagem dos lotes mudou consideravelmente. Nesse novo processo de produção, com mais tecnologia, com adoção da utilização de insumos, tratores, farinheiras mecanizadas, criação de peixes e outros, era necessário organizar a produção e garantir a comercialização.
A dificuldade de introduzir a produção dessas famílias, que começaram a produzir em grande escala era grande, apesar de algumas estarem inseridas nos programas governamentais de comercialização, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), por exemplo. Foi nesse contexto que surgiu a proposta de se trabalhar uma feira que envolvesse toda a família, ao mesmo tempo em que se trabalhasse a produção com sustentabilidade e a segurança alimentar.
A Feira
A Feira Sabor do Campo, que teve início no mês de abril de 2013, envolveu os cinco princípios da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER) considerados como critério para análise de Boas Práticas de Ater. São eles: Desenvolvimento rural sustentável com a utilização adequada dos recursos naturais e com a preservação do meio ambiente; Adoção de metodologia participativa, com enfoque multidisciplinar, interdisciplinar e intercultural, buscando a construção da cidadania e a democratização da gestão da política publica; Adoção dos princípios da agricultura de base ecológica como enfoque preferencial para o desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis; Equidade nas relações de gênero, geração, raça e etnia; e Contribuição para segurança e soberania alimentar e nutricional.
O maior desafio para iniciar a feira foi demonstrar às famílias que mesmo diante das dificuldades este era um caminho a se seguir. “Com uma distancia média de 40 km entre os reassentamentos e a capital Porto Velho, as famílias dependiam de auxílio tanto para o transporte da produção como para o próprio deslocamento”, conta Johnnescley Anes de Moraes, extensionista da Emater-RO e agente de Ater responsável pelo projeto. Para superar esse obstáculo, a parceria entre a Emater-RO e a Santo Antonio Energia bancou, por dois anos, o transporte.
O sucesso veio logo na 1.ª realização da Feira Sabor do Campo. As 35 famílias participantes venderam toda a sua produção, totalizando um montante aproximado de R$ 10.500,00 de produtos vendidos. Esse movimento gerou grande repercussão na mídia local e as famílias abriram os olhos para a oportunidade que se apresentava.
Os resultados esperados não poderiam ter sido melhores. A oportunidade de continuar trabalhando e gerar renda com o trabalho da família trouxe mais motivação e entusiasmo àqueles que tiveram que deixar para trás tudo o que já tinham construído. Hoje a Feira Sabor do Campo conta com 40 agricultores permanentes, que realizam a feira quinzenalmente, movimentando aproximadamente R$ 56.000,00 por mês.
Casos de sucesso
O agricultor familiar Jose Dantas, morador do Projeto de Reassentamento Santa Rita, em Porto Velho, faz parte do grupo de famílias que tiveram que sair de suas casas para recomeçar a vida. Ele sempre foi um homem ativo, participante, mas sua produção agrícola era praticamente para consumo familiar.
Sua renda era complementada com a aposentadoria e serviços que prestava diariamente para terceiros e, com a produção de sua esposa, Maria José Dantas, que trabalhava com artesanato. Eles iniciaram sua participação na feira de maneira bastante dependente da equipe de Ater, porém, com os incentivos e o aumento da renda aos poucos, sua área de produção também foi aumentando. Em pouco tempo, a renda obtida pela vendas dos produtos na feira se tornou a renda principal da família.
Com um ano de meio participando da feira, José Dantas, percebeu que precisava caminhar com as próprias pernas. Sentiu a necessidade de ter um meio de locomoção e condição de transporte para a sua produção. Assim, mais uma vez sob orientação da Emater-RO, financiou um veículo utilitário, através das linhas de crédito oferecidas pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). “Vale ressaltar que o financiamento foi concedido pelo agente financeiro mediante capacidade de pagamento e da produção existe na propriedade. Realmente uma grande mudança de realidade para essa família”, lembra o extensionista.
José Dantas não foi o único a realizar aquisição de veiculo. Assim como ele, Antonio Paixão, também agricultor do Projeto de Reassentamento Santa Rita e participante da Feira Sabor do Campo, adquiriu um transporte para a sua produção de banana e limão. E muitos outros estão, aos poucos, aumentando o seu patrimônio e melhorando a sua qualidade de vida.
Aos poucos esse sentimento de empodeiramento da Feira tomou conta de muitas famílias. Muitas artesãs adquiriram novas máquinas de costura com a finalidade de melhorar o acabamento de seus produtos e até de produzir peças diferenciadas, tudo para ser comercializado na Feira Sabor do Campo.
Com o bom atendimento dos feirantes, e produtos de qualidade, os agricultores feirantes da Feira Sabor do Campo têm sido convidados a participarem de grandes eventos realizados em Porto Velho. O sentimento não poderia ser outro além da conquista: a conquista dos sonhos, do bem estar familiar, da melhoria da qualidade de vida, a conquista pela dignidade e o orgulho de serem agricultores familiares.
Wania Ressutti
Jornalista – SRTE/DRT/RO-959
EMATER-RO